julho 21, 2015

PT aceita que Dilma seja “expelida” e ensaia o “volta Lula”.

O PT liderou na noite desta terça-feira um ato em defesa do mandato de Dilma. Contou com o apoio de partidos como o PCdoB e o PDT. Leio na Folha que o ultraesquerdista PCO também estava lá… Que coisa, né? Vai ver é a Versão Petrolão da Quarta Internacional Socialista. Até o trotskismo já foi melhor no Brasil. Que gente! Mas sigamos.
O ato, realizado nas dependências da Uninove, em São Paulo, uma das universidades privadas que lucram muito com o ProUni e com o Fies — ah, como é bom socializar o nosso dinheiro!!! —, se transformou, na verdade, numa manifestação em favor da volta de Lula, o Dom Sebastião da derrocada petista.
Na raiz dessa patacoada está um misto de mentira, má-fé e vigarice política, a saber: estaria em curso um golpe contra Dilma. E seria desfechado por quem? Provavelmente, pelas leis, não é?, já que só elas podem derrubar a mandatária. No entusiasmo, Rui Facão, presidente do PT, leio no Estadão, se traiu e afirmou:
“Não se esqueçam, companheiros e companheiras, que gritamos ‘Fora Collor’ e gritamos ‘Fora FHC’. E o ex-presidente Collor saiu da Presidência num processo legal, dentro da democracia, e é isso que eles pretendem fazer agora: expelir a Dilma dentro de um processo democrático.”
Foi a primeira coisa sensata que Falcão disse em muitos anos. É isto mesmo: o que se quer é expelir — o verbo é um pouco grosseiro, próprio da retórica da falcoaria — Dilma dentro de um processo democrático.
Se, com as contas rejeitadas, houver uma denúncia contra a presidente por crime de responsabilidade e se 342 deputados a aceitarem, ela se afasta. E poderá ser cassada pelo Senado. Há aí a combinação da Lei 1.079 com a Constituição. Se o TSE decidir que houve abuso do poder político e econômico na eleição, ela perderá o mandato: nesse caso, há o enlace da Lei 9.504 com, ora vejam, a Constituição de novo! E ainda há a possibilidade de haver o feliz casamento entre a Carta Magna e o Artigo 359 do Código Penal.
Rui Falcão tem razão! Tudo dentro do mais legítimo processo democrático.
De forma apropriada e acertando na pessoa verbal, disse ele: “Gritamos ‘Fora Collor’ e ‘Fora FHC’”. Sim, os petistas gritaram! Contra Collor, os motivos eram evidentes. Contra FHC, era só berreiro político. Aliás, aproveito para discordar aqui do bom senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP): com efeito, Dilma não é Collor, mas, não nos esqueçamos nunca, os crimes daquele governo, na comparação com os da era petista, mereceriam ir para um Tribunal de Pequenas Causas, certo?
Depois de deixar claro, ainda que sem querer, que gritar “Fora Dilma” é, sim, democrático, Falcão tentou explicar que diabos, afinal de contas, faziam ali os, então, convertidos em golpistas contra a democracia. Segundo ele, o problema está no “monopólio da mídia”. E ensaiou, em outro desdobramento de sua confusão mental:
“Nós temos uma democracia imperfeita ainda, que queremos reformar e está regredindo, garantindo financiamento empresarial, reduzindo tempo de TV, reduzindo a participação das mulheres na vida política, reduzindo a maioridade penal. Estamos perdendo sucessivamente, e é isso que precisamos reverter.”
Ah, entendi. Pedir o “Fora Dilma” é, sim, democrático, mas os petistas e congêneres devem dizer o contrário porque, muito democraticamente, sua agenda está sendo derrotada pela sociedade e pelo Congresso Nacional, legitimamente eleito. Donde se conclui que democracia que não aprova as propostas do PT e das esquerdas, ou que francamente as rejeita, democracia não é.
Os golpistas reunidos nesta terça — segundo a Folha, 900 — fizeram ainda um coro de “Volta Lula”. Falcão, inspiradíssimo, afirmou:
“Sabe o que as pessoas dizem no interior, quando você viaja para outros estados? ‘Olha, tudo isso que está acontecendo, a gente até entende; que haja corrupção, nós já estamos acostumados. O problema é impedir a volta do Lula em 2018′. É disso que se trata, porque a volta do Lula não é questão de messianismo, nem de salvação nacional, é a continuidade de um projeto que precisa avançar “.
Nossa! Em que estado se diz isso? E o que quer dizer o “estamos acostumados com a corrupção”? Quem “estamos”? Corrupção de quem? Essa, dos 13 anos da era petista? Fico contente com a manifestação desta terça. É sinal de que eles não vão encontrar o rumo tão cedo.
E sobraram, claro!, críticas para a Operação Lava Jato. Aí um cretino de plantão, que sabe que me atacar rende trânsito na Internet, poderia emendar: “Ah, mas você também critica…”. Critico desmandos, manifestações circenses e exageros, os mesmos que o PT aplaudiu no passado quando os alvos eram seus adversários. Eu aponto os aspectos negativos da operação justamente porque tenho horror aos petralhas: para eles, PF e MP bons são os que cometem arbitrariedades com seus inimigos e que protegem seus amigos. Se esses entes fazem o contrário ou se generalizam o pega-pra-capar, reclamam. Para mim, PF e MP bons são os que não cometem ilegalidades contra ninguém.
As minhas diferenças com o petralhismo não são apenas de lado, mas também de valores e de métodos. Quando vejo hoje alguns trouxas a aplaudir procedimentos que antes condenavam só porque, desta vez, os alvos são os petistas, sinto um misto de asco e desprezo. Ou terá havido antes interesses que eu ignorava? É puro lixo moral e intelectual. São da mesma escola de Rui Falcão.
Encerro
O presidente do PT comandou, em suma, uma reunião de golpistas contra as regras do Estado de Direito. E está dando início, sete meses depois da posse de Dilma, ao movimento “Volta Lula”.

Volta Lula?
Trilha sonora do evento: “Walking Dead”.
FONTE: Reinaldo Azevedo

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