outubro 10, 2014

Maranhense Ferreira Gullar é o novo imortal da Academia Brasileira de Letra


Por votação quase unânime, a Academia Brasileira de Letras (ABL) elegeu hoje (9) o poeta Ferreira Gullar para a cadeira 37 da Casa, vazia desde 3 de julho, com a morte do poeta e tradutor Ivan Junqueira. Gullar recebeu 36 dos 47 possíveis e foi eleito em primeiro escrutínio. Um voto foi em branco. Votaram 18 acadêmicos presentes e 18 por cartas.

O maranhense Ferreira Gullar, cujo verdadeiro nome é José de Ribamar Ferreira, nascido em São Luís, em 10 de setembro 1930, é o terceiro poeta a ocupar sucessivamente a cadeira 37. Antes de Ivan Junqueira, ela pertenceu ao pernambucano João Cabral de Melo Neto. A cadeira teve como fundador Silva Ramos, que escolheu como patrono o poeta Tomás Antonio Gonzaga. Seus ocupantes anteriores foram Alcântara Machado, Getúlio Vargas e Assis Chateaubriand.

Nascido em uma família de classe média pobre, Gullar passou a infância entre a escola e a vida de rua, jogando bola e pescando no Rio Bacanga. Aos 18 anos, começou a frequentar os meios literários da capital maranhense. Um ano mais tarde descobriu a poesia moderna, ao ler os poemas de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.

Em 1954, Ferreira Gullar lançou A Luta Corporal, livro que o projetou no cenário literário nacional. Os últimos poemas deste livro provocariam o surgimento, na literatura brasileira, da “poesia concreta”, da qual ele foi um dos participantes. Dissidente, passou a integrar um grupo de artistas plásticos e poetas do Rio de Janeiro, denominado neoconcreto.

São expressões da arte neoconcreta as obras de Lygia Clark e Hélio Oiticica, hoje nomes mundialmente conhecidos. Nesse grupo, Gullar levou suas experiências poéticas ao limite da expressão, criando o livro-poema, o poema espacial e, finalmente, o poema enterrado. 

O último é uma sala de subsolo, a que se tem acesso por uma escada. Após penetrar no poema, o visitante se depara com um cubo vermelho. Ao levantar o cubo, encontra outro, verde, e sob este ainda outro, branco, que tem escrito numa das faces a palavra “rejuvenesça”.

Após afastar-se do movimento neoconcreto, Gullar aderiu à luta política revolucionária, nos anos que antecederam e que se seguiram ao golpe militar de 1964. Membro do Partido Comunista Brasileiro, foi processado e preso na Vila Militar. Mais tarde, teve de abandonar a vida legal. Passou à clandestinidade e, depois, ao exílio.

Durante o exílio em Buenos Aires, escreveu Poema Sujo, poema de quase 100 páginas, avaliado como sua principal obra. Traduzido e publicado em várias línguas e países, Poema Sujo foi determinante para a volta do poeta ao Brasil.

Quando retornou, em 1977, foi preso e torturado. Libertado por pressão internacional, retomou seu trabalho na imprensa do Rio de Janeiro e, como roteirista, na televisão.

O teatro é outro campo de atuação de Ferreira Gullar. Após o golpe militar, ele e um grupo de jovens dramaturgos e atores fundou o Teatro Opinião, que teve importante papel na resistência democrática ao regime autoritário. Nesse período, escreveu, com Oduvaldo Vianna Filho, as peças Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come e A saída? Onde fica a saída? . De volta do exílio, escreveu Um rubi no umbigo, montada pelo Teatro Casa Grande, em 1978.

Em 2002, Ferreira Gullar foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura. Em 2010, recebeu o Prêmio Camões, o mais importante para autores de língua portuguesa. Instituído em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal, o Camões é concedido anualmente a autores que tenham contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural do idioma.


Jornal Imparcial

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