BRASÍLIA – O ministro
Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu nesta
quarta-feira a legalização da maconha como forma de aliviar a crise do sistema
penitenciário brasileiro. Segundo ele, a medida desmontaria o tráfico de drogas
e, com isso, o número de condenados diminuiria. Barroso afirmou que, se a
experiência desse certo com a maconha, seria o caso de legalizar também a
cocaína.
— A primeira etapa,
ao meu ver, deve ser a descriminalização da maconha. Mas não é descriminalizar
o consumo pessoal, é mais profundo do que isso. A gente deve legalizar a
maconha. Produção, distribuição e consumo. Tratar como se trata o cigarro, uma
atividade comercial. Ou seja: paga imposto, tem regulação, não pode fazer
publicidade, tem contrapropaganda, tem controle. Isso quebra o poder do
tráfico. Porque o que dá poder ao tráfico é a ilegalidade. E, se der certo com
a maconha, aí eu acho que deve passar para a cocaína e quebrar o tráfico mesmo
— disse o ministro.
O plenário STF
começou a analisar um processo que pede a descriminalização do porte de drogas,
mas um pedido de vista do ministro Teori Zavascki interrompeu o julgamento. Com
a morte do ministro, o sucessor dele, que ainda não foi escolhido pelo
presidente Michel Temer, vai herdar o processo. A expectativa é de que o caso
demore até ser devolvido ao plenário, porque o novato ainda teria que estudar o
caso antes de elaborar o voto.
Barroso explicou que
não cabe ao Judiciário decidir sobre a legalização ou não das drogas. Essa
seria uma tarefa para o Congresso Nacional – que, segundo ele, precisa
abandonar os preconceitos antes de analisar o tema.
— Isso depende de
legislação. É preciso superar preconceitos e é preciso lidar com o fato de que
a guerra às drogas fracassou e agora temos dois problemas: a droga e as
penitenciárias entupidas de gente que entra não sendo perigosa e sai perigosa.
Eu sei que há muito preconceito, mas a questão vai ser ou fazer logo, ou fazer
ali na frente, porque não tem alternativa — opinou o ministro.
Para Barroso, um dos
grandes problemas do sistema penitenciário é a prisão de pequenos traficantes
que não são perigosos e, quando deixam a prisão, ficam perigosos.
— A crise no sistema
penitenciário coloca agudamente na agenda brasileira a discussão da questão das
drogas. Ela deve ser pensada de uma maneira mais profunda e abrangente do que a
simples descriminalização do consumo pessoal, porque isso não resolve o
problema. Um dos grandes problemas que as drogas têm gerado no Brasil é a
prisão de milhares de jovens, com frequência primários e de bons antecedentes,
que são jogados no sistema penitenciário. Pessoas que não são perigosas quando
entram, mas que se tornaram perigosas quando saem. Portanto, nós temos uma
política de drogas que é contraproducente, ela faz mal ao país — declarou.
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