Na esteira dos 100 anos do naufrágio mais comentado de todos os tempos, o cineasta James Cameron relança o filme Titanic em 3-D. Há três possibilidades de uma imagem aparecer na tela de projeção: a paralaxe zero (no plano da tela), a paralaxe positiva (imagem para frente da tela) e a paralaxe negativa (para trás da tela). Cameron deu preferência a esta última. Assim, em vez da proa do Titanic passar rente ao nariz do espectador, ele optou por dar maior perspectiva de profundidade às cenas.
Foi um processo exaustivo e dispendioso. Mas se era pra gastar e se desgastar tanto de novo com o mesmo filme poderiam ter contratado um roteirista dessa vez! Embora o filme seja agora em 3-D, não há dinheiro nem tecnologia no mundo que dê profundidade aos personagens rasos e à historinha da menina rica que se apaixona por menino pobre mas de alma sensível.
O formato mais apropriado para o relançamento do Titanic não é o 3-D, e sim o estilo do cinema mudo. Sem os clichês do diálogo, sobrariam a magnitude da direção de arte que reproduziu os mínimos detalhes do navio e as belas imagens (apesar da cena batidíssima de um casal se encontrando na proa de um barco enquanto o sol se põe). Ficaríamos livres também da insuportável canção da Celine Dion. Aliviaríamos um pouco o sofrimento dos personagens que morrem num mar gelado e ainda têm que ouvir a Celine Dion cantando o xarope “my heart will go on”!
O fato é que a população mundial gostou do filme. Outro fato é que a história do filme colabora para a disseminação de velhos mitos sobre essa tragédia. Por exemplo, há especialistas que afirmam que a famosa frase “Nem Deus afunda o Titanic” foi criada após o evento. O naufrágio, então, teria sido um castigo divino à arrogância humana. A moral dessa história é que Deus castigou passageiros e tripulação por uma frase que eles sequer tinham ouvido.
Há, também, poucas evidências de que um grupo de músicos teria tocado o hino cristão “Nearer my God, to Thee” durante a confusão e o desespero dos passageiros que disputavam os lugares nos botes salva-vidas (Esse hino é conhecido como “Mais perto quero estar” – quando criança, me diziam que o grupo tocou “Tudo Entregarei”). Outros sobreviventes, porém, se lembraram apenas de ouvir música de entretenimento sendo tocada naquela hora. A cena do hino parece ser uma licença poética bem apropriada para aumentar o drama (essa cena já estava no filme Somente Deus por Testemunha feito em 1958).
A BBC inglesa elencou 5 mitos sobre o Titanic e você pode lê-los clicando aqui (em inglês).
De minha parte, eu aponto três mitos sobre o filme:
1- Titanic é um grande filme. Não, não é. É um filme grande, no sentido de longo, caríssimo, que rendeu muitíssimo.
2- Titanic é um filme muito ruim. Não, não é. Tem cenas ridículas (como a de Leonardo di Caprio salvando uma criança só pra mostrar como ele é pobre, mas limpinho), mas é extraordinariamente bem feito. Apesar do roteiro não colaborar, Leonardo di Caprio e Kate Winslet conseguem superar todos os clichês e absurdos porque eram, e ainda são, excelentes atores. É longo, mas não é chato.
3- Era perfeitamente possível que o Jack se salvasse. Sim, era mesmo. Foi pura maldade do diretor congelar o corpo do protagonista. Veja a fotomontagem abaixo e perceba com a personagem Rose se mostrou uma tremenda espaçosa.
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