Por José Sarney
Gonçalves Dias, na Canção do Exílio, dizia que “nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá”. Mas temos também nossos Joões que cantam sem sabiá. Agora, desaparece mais um deles, Joãosinho Trinta, o carnavalesco, o homem de talento, de originalidade e imaginação, sendo uma referência na cultura popular brasileira, onde cantava e fazia multidões cantarem.
Tivemos o nosso outro João, o João do Vale, das canções marotas, poeta musical, que impregnou suas músicas com a picardia maranhense, naquele jeito bem nosso, sem esquecer suas raízes, seu barro e seu chão. “Pisa na fulô”, “Peba na pimenta”, “Pipira me mordeu” e tantas mais. Um dia perguntei-lhe: “João, você sabe ler?”. Respondeu: “Ler eu sei, mas aqueles (iii) pinguinhos é que me atrapalham”. Ele cantava mais que o sabiá.
E o outro João? É o do mês de junho, o São João, que eu não sei se nasceu na Palestina ou aqui, mas é aqui que ele canta nas festas juninas, desde a quadrilha aos cordões de bumba-meu-boi, com “Coxinho chegou lá no céu…”, com tambores e faz os anjos entrarem no ritmo do boi de matraca, de Pindaré, de Axixá e tantos e tantos. Outro dia, perdemos a nossa Dona Teté do Cucuriá.
Joãosinho nasceu João, tinha um Clemente, depois um Jorge, também de santo festeiro no Tambor de Mina no meio e, finalmente Trinta, que lhe marca o renome. Aos 18 anos, larga São Luís e vai para o Rio estudar balé clássico. Apareceu na Aida e O Guarani. Saiu para o mundo do Carnaval, onde afirmou seu grande talento, seu gênio para as cores, as brilhantes fantasias, os enredos cheios de segredos e também da picardia maranhense – “Vamos vestir a camisinha meu amor” -, o mundo encantado da alegria, que ele mesmo representava na sua esfuziante personalidade de olhos vivos e alertas que não escondiam um coração de uma alma de gente muito boa.
Foi pioneiro e inovador na construção dos grandes desfiles, na introdução do merchandising nas Escolas de Samba, da polêmica, com seu Cristo proibido pela Justiça, que ele cobriu com plástico e uma frase “Mesmo censurado, rogai por nós”.
Tanta vida, tanto vigor, cabeça sempre a imaginar coisas, em 2003 sofre um AVC e chega a visitar a morte. Fica com sequelas e no Sarah, onde fui visitá-lo, com grande esforço reabilita-se, volta a sonhar, escreve enredos e não sossega. Vem outro AVC, em 2006. A partir daí, ele luta em seu calvário, mas não desiste. Volta ao Maranhão, e estava envolvido na criação de um grande enredo para o desfile de 400 anos da sua cidade.
“Pobre gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual”, foi o provérbio que se tornou verdade e que marcou o Carnaval para sempre.
Quis Deus que depois de ser do Brasil e do mundo viesse deixar a relíquia do seu corpo no seu chão, onde ouvirá perpetuamente os folguedos da cidade, lembrando seu nome: Joãosinho Trinta.
Gonçalves Dias, na Canção do Exílio, dizia que “nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá”. Mas temos também nossos Joões que cantam sem sabiá. Agora, desaparece mais um deles, Joãosinho Trinta, o carnavalesco, o homem de talento, de originalidade e imaginação, sendo uma referência na cultura popular brasileira, onde cantava e fazia multidões cantarem.
Tivemos o nosso outro João, o João do Vale, das canções marotas, poeta musical, que impregnou suas músicas com a picardia maranhense, naquele jeito bem nosso, sem esquecer suas raízes, seu barro e seu chão. “Pisa na fulô”, “Peba na pimenta”, “Pipira me mordeu” e tantas mais. Um dia perguntei-lhe: “João, você sabe ler?”. Respondeu: “Ler eu sei, mas aqueles (iii) pinguinhos é que me atrapalham”. Ele cantava mais que o sabiá.
E o outro João? É o do mês de junho, o São João, que eu não sei se nasceu na Palestina ou aqui, mas é aqui que ele canta nas festas juninas, desde a quadrilha aos cordões de bumba-meu-boi, com “Coxinho chegou lá no céu…”, com tambores e faz os anjos entrarem no ritmo do boi de matraca, de Pindaré, de Axixá e tantos e tantos. Outro dia, perdemos a nossa Dona Teté do Cucuriá.
Joãosinho nasceu João, tinha um Clemente, depois um Jorge, também de santo festeiro no Tambor de Mina no meio e, finalmente Trinta, que lhe marca o renome. Aos 18 anos, larga São Luís e vai para o Rio estudar balé clássico. Apareceu na Aida e O Guarani. Saiu para o mundo do Carnaval, onde afirmou seu grande talento, seu gênio para as cores, as brilhantes fantasias, os enredos cheios de segredos e também da picardia maranhense – “Vamos vestir a camisinha meu amor” -, o mundo encantado da alegria, que ele mesmo representava na sua esfuziante personalidade de olhos vivos e alertas que não escondiam um coração de uma alma de gente muito boa.
Foi pioneiro e inovador na construção dos grandes desfiles, na introdução do merchandising nas Escolas de Samba, da polêmica, com seu Cristo proibido pela Justiça, que ele cobriu com plástico e uma frase “Mesmo censurado, rogai por nós”.
Tanta vida, tanto vigor, cabeça sempre a imaginar coisas, em 2003 sofre um AVC e chega a visitar a morte. Fica com sequelas e no Sarah, onde fui visitá-lo, com grande esforço reabilita-se, volta a sonhar, escreve enredos e não sossega. Vem outro AVC, em 2006. A partir daí, ele luta em seu calvário, mas não desiste. Volta ao Maranhão, e estava envolvido na criação de um grande enredo para o desfile de 400 anos da sua cidade.
“Pobre gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual”, foi o provérbio que se tornou verdade e que marcou o Carnaval para sempre.
Quis Deus que depois de ser do Brasil e do mundo viesse deixar a relíquia do seu corpo no seu chão, onde ouvirá perpetuamente os folguedos da cidade, lembrando seu nome: Joãosinho Trinta.
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