MOSCOU —
Após o fracasso das negociações, a Rússia cumpriu nesta segunda-feira sua
ameaça e cortou o fornecimento de gás à Ucrânia, que também pode afetar o
abastecimento da Europa e agravar o pior conflito no continente desde a Guerra
Fria. O governo da Ucrânia afirmou nesta segunda-feira que a Rússia reduziu “a
zero” o fornecimento do insumo por falta de acordo sobre o preço.
— Nós fomos informados de que o fornecimento de gás à Ucrânia
foi reduzido a zero e que apenas há volumes enviados em trânsito para países
europeus — disse o ministro ucraniano da Energia, Yuri Prodan, acrescentando
que a Ucrânia vai garantir o trânsito confiável (de gás) para a Europa.
Os líderes pró-ocidentais da Ucrânia tinham a esperança de
encontrar uma solução de última hora para resolver a falta de acordo energético
com Moscou, enquanto o Leste do país enfrenta um violento conflito com rebeldes
pró-russas. O ultimato, no entanto, expirou na manhã desta segunda-feira e a
empresa estatal Gazprom anunciou que introduziria um sistema de pagamento
antecipado para o fornecimento de gás à Ucrânia.
“A Gazprom, em virtude do contrato em vigor, passou a Naftogaz a
um sistema de pagamento antecipado para o fornecimento de gás”, afirma o grupo
russo em um comunicado, sem revelar se o abastecimento foi cortado. “Em junho
não aconteceu nenhum pagamento. A partir deste dia, a sociedade ucraniana só
receberá os volumes pelos quais pagou”, completa a nota, sem informar as
consequências imediatas.
O grupo russo Gazprom também destacou que advertiu a Comissão
Europeia sobre “possíveis perturbações” no fornecimento, caso a Ucrânia desvie
parte do gás que transita por seu território e tem a Europa como destino. A
empresa russa recordou que a operadora de gás ucraniana Naftogaz “tem a
obrigação de garantir o trânsito” para a Europa por um contrato em vigor que
informa os volumes que devem passar por seu território. Cerca de 15% do gás
consumido na Europa passa por esta rota.
Kiev não aceitou o aumento de preço imposto por Moscou após a
chegada ao poder de autoridades pró-Ocidente, depois da queda do presidente
pró-Rússia Viktor Yanukovytch. O preço subiu de U$S 268 por 1.000 metros
cúbicos para U$S 485, um valor sem precedentes na Europa. Na “última oferta”,
Moscou apresentou a proposta de U$S 385.
Sem acordo, a Gazprom anunciou que entrou com uma ação no
tribunal de arbitragem internacional em Estocolmo contra a Naftogaz para reclamar
o pagamento de uma dívida que alcança U$S 4,5 bilhões.
‘RESPOSTA
ADEQUADA’ CONTRA REBELDES
Enquanto isso, os conflitos no Leste na Ucrânia não cessam. O
presidente ucraniano, Petro Poroshenko, prometeu uma “resposta adequada” aos
separatistas após a derrubada de um avião do Exército em Luhansk, deixando 49
mortos, o ataque com mais vítimas desde que Kiev começou em abril uma operação
militar contra rebeldes pró-Moscou.
Poroshenko convocou nesta segunda-feira um conselho de segurança
nacional e de defesa no qual será discutido a imposição de uma lei marcial no
Leste, informou o ministro de Defesa ucraniano, Mijailo Koval.
Após as esperanças nascidas com os primeiros contatos entre o
presidente russo, Vladimir Putin, e o novo chefe de Estado ucraniano, a tensão
diplomática entre Kiev e Moscou aumentou durante o fim de semana.
No sábado, houve manifestações em frente à embaixada russa em
Kiev contra a derrubada do avião militar e no domingo foi publicado um vídeo em
que o ministro de Exteriores ucraniano insultava Putin.
Fonte: O Globo
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